Primeiro, acho que é necessário falar que mudar de país não é nada fácil. A
maioria das pessoas querem postar só as coisas boas, uma vida perfeita, mas
a realidade está longe disso e, acredite, está tudo bem!! 😅

Então, se você pensa em morar fora, fica por aqui para entender um pouquinho
mais sobre todas as mudanças que vão ocorrer.
Quero começar falando que nunca tive vontade de morar fora, inclusive odiava
fazer curso de inglês, eu ia obrigada (inclusive obrigada pai e mãe por me
obrigarem ahahahha). E nunca foi algo que eu e meu marido (na época,
namorado) tínhamos conversado.
Vou resumir minha vinda pra cá, mas depois, você pode ler melhor depois aqui ou assistir.
Em dezembro de 2020, Caio veio com a ideia de tentar uma vaga na Polônia.
Como nunca havia sido conversado entre a gente, falei que ele poderia aplicar
e depois veríamos como seria, caso ele passasse. Em janeiro de 2021, ele veio
com a resposta que havia passado...
No primeiro momento, não acreditei muito no que estava acontecendo, talvez
tenha sido imatura e só pensava que viveríamos na Europa. Então, demos
início ao casamento civil, pois já estávamos noivos, mas para a empresa arcar
com meus custos e eu conseguir acompanhar ele, tivemos que antecipar a
papelada do casamento. Então, eu diria que, de fevereiro a setembro de 2021,
eu vivi resolvendo pendências, sobre a mudança, sobre o casamento, sobre a
nova vida, e inclusive fechando minha empresa.
Confesso que não tava dando a importância que seria essa mudança na minha
vida.
Em setembro de 2021, chegamos na Polônia. Nos primeiros meses, vivi como
turista, até porque tínhamos 2 viagens marcadas para o Brasil (casamento do
meu cunhado e nossa festa de casamento). Fomos super bem recebidos,
tínhamos uma rede de apoio de brasileiros, vi a neve pela primeira vez,
viajamos aqui por perto. Estava vivendo os primeiros meses de casada, afinal
só fomos morar nós dois sozinhos aqui.
Quando voltamos à Polônia em maio de 2022 que eu comecei a entender o
que estava acontecendo. Que minha nova vida seria aqui. Que os meses iam
passando e a família não estava perto, que eu olhava para minha carreira e me
sentia perdida, que eu olhava para minha casa e não me sentia confortável,
que eu tinha amizades, mas todas eram novas e ainda com muitos “dedos”,
que eu queria só um colo de mãe e uma comida caseira, quando, na verdade,
eu devia ter as responsabilidades da casa, afinal eu havia crescido!
Então começaremos com a tal da ADAPTAÇÃO.
Primeiro quero deixar claro que não existe tempo certo para se adaptar, ok?!
Eu me cobrava muito pois via que a maioria das pessoas, inclusive o Caio,
super adaptadas e eu não! A adaptação vai acontecer no tempo de cada um.
Não existe certo ou errado, ou que você se adapta depois de decorrido certo
tempo. Eu diria que é de ser humano para ser humano. E existem pessoas que
não se adaptam, e está tudo bem!! Elas vão voltar para seus países de origem
e encontrar lá o aconchego e a felicidade.
Eu hoje, com 3 anos vivendo no exterior, consigo dizer que me adaptei.
Consigo vir aqui compartilhar o que passei com a mudança de país e consigo
explicar sobre tudo isso.
A adaptação envolve todos os itens que comentarei aqui embaixo, além de ser
sobre se acostumar com o clima, com a cultura local, com a comida, com os
dias escuros, com a língua.

Mas confesso que esses citados acima nunca foram tão complicados para
mim.
Como uma boa carioca da gema, eu amo o sol e o calor. E por aqui, na maior
parte do ano temos temperaturas mais frias, além dos dias curtos e escuros
(afinal, no outono amanhece às 8h e começa a escurecer às 15:30). Mas as
casas e estruturas são feitas para manter o calor, temos roupas e aquecedores
que facilitam nossa vida. E claro, tomamos quase o ano todo suplemento de
vitamina D, pois não temos tanto contato com o sol.
A língua é uma das mais difíceis no mundo 🤡, ainda bem que foram poucas as vezes que senti a necessidade de saber falar em polonês
(mas é do nosso planejamento começar a aprender nesse ano). Por aqui
conseguimos nos comunicar em inglês e vivemos assim.

Sobre cultura e alimentação, claro que são diferentes, mas isso vai depender
se você estará disposto a querer achar e se encaixar numa cultura nova. Isso
não significa que você vai esquecer a sua cultura ou deixá-la de lado, e sim de
encaixar-se no que faz sentido para você. Existem várias tradições e feriados
que trago pra minha vida, mas outras coisas não funcionam e prefiro manter
minha originalidade e tá tudo bem!!
Sobre se comunicar em uma nova língua, é algo que eu demorei bastante para
entender. Pois quando você chega em um novo lugar, você pode ser quem
você quiser ser, afinal, você quem está “pintando” sua imagem. E isso por
muito tempo alugou um triplex na minha cabeça (como diz minha terapeuta).
Afinal eu odeio ser uma pessoa que não sou, eu não era tão fluente no inglês
quando cheguei e eu sou muito perfeccionista, então quero falar 100% correta
(e não queria que ninguém me julgasse). Então, passei meses sem me
comunicar direito, eu tinha medo de sair sozinha e ter que falar inglês, eu fazia
o Caio ir ao médico comigo, eu não falava com outras pessoas além do grupo
de latinos que tínhamos, não fazia novas amizades, não conseguia me
expressar (quem me conhece pessoalmente sabe que eu falo até com a porta
😂😂).
Até o momento que vi que estava perdendo minha identidade e me perdendo.
Então, decidi que era necessário eu me arriscar!! Me vulnerabilizar para ter o
controle. Era melhor eu começar a falar, ser julgada, ser criticada, mas ser a
Mariana. Foi quando consegui sair da minha zona do conforto em pequenas
coisas como assistir filme em inglês, ir ao mercado sozinha, tentar me
expressar com as palavras que eu tinha. E hoje posso te afirmar que eu
consegui!! Posso não falar 100% perfeitamente, não conseguir me expressar
100% (até porque existem palavras que só no português mesmo), mas sei me
virar em qualquer situação!! Sem falar que estou em constante aprendizagem,
pois sempre posso e quero melhorar.
E sobre pintarem uma imagem minha, eu cansei de pensar como eu lidaria
com isso. Pois mesmo falando outro idioma minha essência não vai mudar,
Então eu só confiei em mim mesma, na minha essência e hoje sou a mesma
Mariana em Inglês, Português e Espanhol ahahahaha. (Sim, me mudei para a
Polônia e aprendi a falar espanhol, isso fica pra outro dia)
Agora vamos falar sobre amizades!
Quando mudamos de país, sabemos que os amigos que temos ali desde
sempre não estarão mais ali, que você provavelmente vai ter que falar uma
língua que não é a sua para se comunicar e expressar sentimentos (o que é

difícil ahahaha), além de encontrar muitos brasileiros por aí.
Quando saí do Brasil, vim com o coração aberto para o que me aparecesse,
pensava que as diferenças não seriam levadas em consideração e que a
distância/saudade com outros estrangeiros iria nos unir.👀
Assim que chegamos aqui, fomos apresentados a um pequeno grupo de brasileiros e latinos, Caio já conhecia um deles. Foi bem legal, pois eu não precisava falar inglês (no início), e nos reuníamos quase todo fim de semana...
Mas a vida foi passando, conhecemos outros brasileiros, outros latinos, um se
mudou pra cá, outro pra lá. E as amizades se encerraram... Então primeiro
ponto que acho interessante comentar é que AMIZADES DE EXPATRIADOS
são muito intensas....
Pois as pessoas chegam muito rápido, fazem a amizade e depois vão embora muito rápido. Mas falo isso para ser transparente e alinhar expectativas, pois é algo que eu ainda estou aprendendo a lidar,

Porque as pessoas não se adaptam, as pessoas te usam, as pessoas não
levam as semelhanças como pontos para estabelecer laços reais, as amizades
não são iguais as que você está acostumada no Brasil.
Sem falar que amizades e ciclos se encerram.... Por favor, normalizem isso!! 🙏
Vejo que quando chegamos aqui, fizemos amizades com pessoas que jamais
seríamos amigos no Brasil. Percebo que aceitamos (eu principalmente)
qualquer amizade, que agradei só para ser aceita e para estar, mas isso não
vale a pena. Hoje, com mais tempo morando por aqui, vejo que está tudo bem
ser seletiva com amizades. Porque, por muito tempo, tentei substituir a família
pelas amizades, pois éramos bem próximos das nossas. Mas isso não deu
certo, não ia funcionar.
Então, hoje eu priorizo quem me prioriza. Estou com quem realmente quero
estar e que me faz bem!!💖
Falando em me fazer bem... E a saudade?!
Como lidamos com isso morando 9.999km longe de quem passamos a maior parte da nossa vida e amamos?!

Bem, eu demorei para entender e a lidar com o sentimento de que você nunca
estará 100% completo. Falo isso, pois sempre vai faltar alguém. No início, eu
não entendia direito, mas hoje eu sei lidar e sonho com o dia que conseguirei
juntar todos.
Além disso, existem pensamentos que normalmente eu prefiro nem pensar,
pois se eu pensar, não ficarei bem. Então, como uma defesa minha, me
bloqueio de pensar, pois sei que, no fundo, todos no Brasil estão felizes e
orgulhosos do que estamos construindo aqui.

Sobre a vida ser uma eterna despedida, eu confesso que as primeiras vezes
foram piores. Mas hoje, me fortaleço para quem fica, ficar bem. Além do mais,
quando a saudade tem data para acabar, é mais fácil de lidar. O período mais
complicado, foi quando ficamos sem visto com o processo em andamento,
então não podíamos sair da Polônia... Foram meses de saudade e sem data
prevista para os reencontros.
E a saudade de coisas pequenas, como uma comidinha caseira de mãe, uma
fruta cortada pelo meu pai, um abraço do meu irmão, um sorriso da minha avó,
um beijo das sobrinhas, um colinho de mãe quando está doente, o vinho com
as amigas, o Vogue de sexta com os sogros... Isso aí não consigo te aconselhar... Confesso que tento lidar, mas sempre bate a saudade!! 🥹

Faço vídeo chamada, mando mensagem, mas não tem como repor.
Tento pensar que estamos aqui para o melhor e que preciso ser forte por nós!!
Quando estamos no Brasil, aproveitamos todos os dias para matar essa
saudade, comer tudo o que não tem aqui, fofocar bastante.
E por último, mas não menos importante. Eu diria que para mim foi o mais
louco de tudo...
A famosa redescoberta ou descoberta...
Muitas pessoas vivem isso, outras não. Algumas vivem quando terminam um
relacionamento toxico, outras quando viram mãe, outras quando são demitidas
da CLT de anos, outras vivem quando mudam de país. E esse foi meu caso...
Não sei se você homem, vai viver mas vou contar ahahahaha
A mudança de país virou minha vida de cabeça pra baixo (obs: isso não é uma
reclamação e muito menos ingratidão, estou apenas compartilhando minha
experiência, pois sei que posso ajudar alguém).
Eu achei que antes de sair do Brasil, eu já estava muito certa das minhas
Com a mudança de país, percebi que eu também estava mudando. Talvez eu
já tenha passado por uma descoberta ou talvez tenha sido a primeira.
Mas pra mim, muitas coisas tinham mudado.
Eu estava indo para um novo país, longe da minha família e amigos. Não
falava inglês direito, uma nova cultura, nova língua, novo clima. Eu tinha casado, eu teria responsabilidades em casa, eu teria que ser adulta, seria o nosso dinheiro, a nossa casa, teria que confiar 100% da minha vida numa pessoa que vinha de outra família (sim, estávamos juntos há 5 anos, mas é diferente e ninguém te conta), a casa precisa disso e daquilo mas a casa não é nossa, é alugada, que casa é essa?! Não gosto dessa casa. Tem que limpar a casa, tenho que comprar os lençóis novos.
Eu tinha acabado de fechar o meu negócio, deixado de lado meu sonho de
abrir uma confeitaria, eu não tinha mais independência financeira e eu pensava
“preciso aprender outra coisa, o que eu gosto de fazer?!” Tenho que arrumar
um emprego, tenho que tomar decisões corretas, pois o tempo tá passando.
Além de todas as cobranças quanto a nós mulheres: Tenho que ser
independentes, que tenho que ter meu trabalho, sou ou não sou uma esposa
troféu, dependo do meu marido pra tudo, tenho que estar linda o tempo inteiro
pois ele merece.
E minha zona de conforto? Será que estou fazendo a coisa certa? Se o meu
casamento não der certo? Se eu não conseguir trabalhar aqui? Não consigo
me comunicar, tenho medo falar inglês? Será que sou uma filha ruim por sair
do país e deixar meus pais? E eu gosto de beber Aperol... E se eu quiser fazer
uma tatuagem? Meus pais não vão gostar. Mas eu sou diferente deles, tem
coisas que eu concordo, tem coisas que não.
Após todas essas caixinhas se abrirem na minha mente e tantas outras que
não lembro agora... Eu tive ANSIEDADE!!
Eu estava desesperada por todas essas respostas e, ao mesmo tempo, eu
queria dar conta de tudo e parecer que por aqui estava tudo perfeito.
Então, depois de muita terapia e reflexão, eu entendi que não são 3 anos por
aqui, que fará daqui o lugar seguro e confortável que era o Brasil. Mas cabe a
mim, transformar aqui esse lugar o mais seguro e confortável que eu conseguir.
Então, após 3 anos, eu consegui “fechar” todas as caixinhas que se abriram na
minha cabeça.
Foi me mudando de casa várias vezes, foi aprendendo a lidar com amizades,
foi me reencontrando em outra profissão, foi treinando o inglês, conversando
com muitas amigas e ouvindo seus conselhos, foi me desafiando cada dia
mais, foi trazendo hábitos antigos que deixei perder, foi trazendo conforto pra
onde eu estava, me rodeando de quem realmente me faz bem, foi chorando e
sorrindo e foi entendendo que eu NÃO TENHO QUE NADA.

Afinal, eu sou uma NOVA MARIANA. Uma Mariana apaixonada pela história,
pela trajetória, pelas escolhas e por se redescobrir ser uma nova ela mesma.
Então, meu conselho é, se você quer morar fora ou já está pelo mundo afora,
saiba que terão várias fases na sua mudança de país. Mas, no fundo, tudo vale
a pena. As coisas levam tempo e tente ser mais carinhosa consigo mesma.💖
Com esse texto, espero ter ajudado, pelo menos, uma pessoa por aí, pois eu
amaria ter lido algo assim antes, feito de coração, mostrando suas vulnerabilidades, me acolhendo e mostrando que no final, vai ficar tudo bem!!
Com muito carinho,
Xoxo
Mari Andrade.
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